quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Carta Russa


Nina, não estou entendendo mais esse seu sumisso. Você ainda se encontra em Moscou? Por que anda se escondendo de mim? Li mais algumas partes daquele caderno de capa preta que confisquei em sua casa e a tristeza ainda permanece como ponto primordial. Queria saber notícias de seu pai, mas além de nunca encontrar você por esses dias, o resto da sua família também sumiu feito a neve nos dias de verão em Moscou.

Gostaria de saber como vai sua vida, ainda tem frequentado a escola? Outro dia, lendo um jornal do governo, me assustei com uma manchete que dizia que o mesmo estaria procurando por toda cidade pessoas dissidentes do exército vermelho. Na reportagem, diziam que esses dissidentes estariam emperrando a máquina soviética do desenvolvimento acusando - os de capitalistas. Temo muito por seu pai mesmo que ele tenha sido deportado da capital eles podem novamente querer prendê - lo nos sujos porões desse regime comunista utópico.


Suas anotações têm me alertado sobre muitas coisas que antes não percebia em nosso governo ou então fingia usando uma bandagem em meus negros olhos. É só olhar ao redor que se percebe a grande falácia a que fomos submetidos. Estamos atravessando um período de subprodução constante que determina todos os comportamentos econômicos e o estilo de vida da URSS.


Como queria te ver minha cara Nina! Temos tanto a conversar e no momento que mais preciso você insiste em se ausentar. Estarei mais uma vez enviando esta para sua residência que ainda se encontra vazia. Mas espero que quando voltar, leia todas e saberá que seu bem mais valioso está em boas mãos.





Warlen Lindorico Guerra Freitas

Nenhum comentário: