sábado, 5 de janeiro de 2008

Navalha



O que mais tem me causado surpresa ou para outros estranheza é a forma de como minhas lembranças chegam até minha mente como um flash. Posso estar tranquilamente fazendo algo, que me valha ou não e em instantes surge uma lembrança retratando algum momento parecido com o presente vivido.

Sentado em um pequena e simplória barbearia de minha cidade, comecei a me entediar com a demora existente gerando uma enorme inquietação. Foi quando ao me distrair por alguns poucos minutos, chegou a tão esperado hora de desfazer a minha barba. Ao reclinar meu corpo sobre aquela cadeira, fechei meus olhos e a partir dali lembrei de meu saudoso avô. Como se fosse um filme, minha mente retratou aquelas manhãs de sábado onde meu pai me levava a sua casa para aparar ou na maioria das vezes, desfaze – la por completo. Sua paciência era totalmente o inverso da minha. Aos primeiros efeitos da lâmina sobre o rosto de espuma branca e cheirosa começo a entrar em num estado de aflição onde meus pés passam a se debater como se a navalha estivesse cortando minha jugular. Já o saudoso Lindorico, sempre estava tranqüilo. Parecia que aquilo era uma satisfação: deixar que a barba crescer para depois ficar sentado durante alguns longos minutos com a lâmina deslizando em suas bochechas, sua garganta sem se quer reclamar de nada.

Tais lembranças me trouxeram a um época, onde eu poderia tentar me aproximar daquele homem alto coma a cara truncada de raros sorrisos mas que ainda me cativa mesmo estando longe já alguns anos.

“Aquele preto tão preto! Com aquela barba branca, tão preta! E aquele tão meigo de quem espera ganhar um sorriso incolor.”

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