sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

É mais uma crise?

As festas já não têm mais a mesma cara. São pessoas diferentes, com sorrisos e formas ausentes onde parecem sair à procura de algo, mas sempre estão distantes de alcança – lo por mais forte que seja sua determinação. Deparamos-nos com uma juventude (onde também fiz parte) sem perspectiva e sem idealizações políticas para suas próprias vidas que vêm crescendo a largos passos no decorrer dos dias.

Ontem todos buscavam idealizações como, por exemplo, a luta de estudantes contra um governo repressivo que via na liberdade de pensamentos uma ameaça para o país sem notar que a própria ameaça eram eles mesmos. Hoje, toda essa luta não serve sequer para que os jovens tenham a consciência de que alguém lutou por nós, ou seja, por um país mais digno e igualitário.

A falta de um desinteresse político por parte da maioria de jovens é enorme e isso faz deles sujeitos alienados que desistem facilmente de seus ideais, seus sonhos ao não comparecer a urna de votação, não exercer seu direito de cidadão, não fazer a sua própria contribuição. Tamanha desistência gera mais tarde a abstinência de exercer seus direitos civis impedindo – os de reclamar sobre problemas de seu bairro, de sua cidade entre outros.

Devemos ter a consciência plena de que o país não é governado somente pelos políticos, pois estes se encontram neste nível de poder porque nós os colocamos lá e sendo assim, se tivermos votado de forma limpa, honesta, não nos vendendo a preço de bananas, teremos todo direito de reclamar, pois se os mesmos foram eleitos devem trabalhar para um todo e não para si próprio beneficiando – se do dinheiro que de um povo tão sofrido como o nosso.

A propósito, em quem você votou para deputado estadual, federal, governador, senador e presidente na última eleição? Imagino a resposta sendo que você nem deve se lembrar qual seu objetivo naquela última festa fora os ácidos não é mesmo?

sábado, 19 de janeiro de 2008

Negro em horário nobre

Devido as regras impostas pelas frações de classe dominante no Brasil, o negro, ao tentar ingressar no meio educacional, é na maioria das vezes extirpado do mesmo pelo fato do governo não o fornecer devidamente uma boa estrutura que permita terminar seus estudos.

O fato desta questão se dá através de um preconceito asqueroso que assola o país desde a vinda dos negros para esta terra. A abolição de 1888 foi extremamente mal pensada não dando aos negros sequer algum direito gerando assim maiores as chagas do sofrimento suprimindo a uma escravidão contemporânea vista por alguns como algo normal.

E esta mesma “normalidade” faz com que as pessoas alimentem seus preconceitos acostumando com a rotatividade do andar da carruagem. Por não poder contar com uma boa estrutura econômica em sua família, o pai negro acaba tendo que submeter seus próprios filhos ao trabalho fazendo com que os mesmos cresçam sem escolaridade alguma para que garantam o leite do dia seguinte vivendo cada dia de suas vidas sem pensar em um futuro promissor, mas sim pensando em como poderão sobreviver dia após dia na voraz selva de pedras. E isso torna – se pior quando uma pessoa na mesma situação se desespera e é guiado por um meio mais fácil de ganhar dinheiro tornando – se quem sabe um soldado do morro.

Na tentativa de sanar tal problema a Fundação Roberto Marinho insiste numa alfabetização da sociedade pobre através de aulas televisivas como o Telecurso 2000. A questão é: como propor uma barbaridade destas se o horário em que as aulas são apresentadas o trabalhador já está fora de casa trabalhando durante horas.

O mais sensato, a principio, seria mostrar estas aulas televisivas no horário em que são exibidas as espúrias novelas que só mostram os negros chicotados pelas costas abafando todo o conhecimento necessário de sua cultura aumentando o preconceito ordinário onde se coloca o negro sempre como a serviço das pessoas brancas.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

O sol nasce pra alguns de maneira exacerbada

Uma chuva que cai em um dia extremamente quente. O corpo, como já é de costume, se rende ao cansaço provocado pela moléstia. A chuva passa e junto com o cansaço vem uma fase de suor que parecia não ter mais fim deixando – o em prantos. Ao tentar se levantar da enorme e aconchegante cama, o corpo parece não obedecer aos comandos e com muito custo chega até o banheiro de sua casa na esperança de que ao se banhar, tudo voltaria ao normal. Engano seu. O sol parecia não permitir descanso algum, pois exatamente neste dia, o mesmo parecia não estar lá com cara de quem nasce pra todos castigando – o de uma forma um tanto quanto injusta.

Os raios, que além de ultrapassarem àquela cortina densa, atingiam o corpo pálido causando um desconforto prolongado em decorrência da vermelhidão da pele. Era o tão aclamado verão que de certa maneira não o beneficiava em nada e sim o castigava por completo. “Como poderia ser tão ingrato assim” pensara ele que já havia tomado sua dose extra de sol nas costa durante algumas horas de árduo e sufocante serviço de manutenção elétrica e tudo o que mais ansiava eram algumas horas de descanso em sua casa e mesmo assim o sol não o concebera perseguindo – o por todos os cantos. Realmente naquele dia o sol não nascera pra todos, ou na pior das situações, nascera, mas se apegara a outros por demais.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Perturbação das minhas faculdades em um quarto escuro

Madrugada de terça – feira. Sinto meu corpo um tanto quanto quente. Tento dormir para acordar bem cedo no outro dia, mas a tentativa é em vão. Os olhos não se fecham e deitado em um quarto escuro, a temperatura não só do meu corpo como também do ambiente, começam a se elevar lentamente fazendo com que a insônia me vença por um extenso período da noite.

No dia seguinte, graças ao irritante som do despertador, consigo me erguer no horário estipulado, porém com dores múltiplas na garganta e no corpo. Mesmo com este incômodo, não poderia faltar ao meu compromisso matinal.

No trajeto, pareço me sentir um pouco melhor. Na fila de espera, passo a observar e conversar com várias pessoas que ali se encontram com a mesma finalidade. Ao chegar minha vez, faço todo o procedimento necessário permitindo que o meu braço esquerdo comece a fluir sangue.

Ao retornar a minha casa por volta das 10h00min sinto o mesmo mal estar de horas atrás, porém de maneira mais intensa fazendo com que meu corpo se entregasse àquela mesma cama ainda desarrumada do quarto escuro. Mosquitos com um zunido insuportável começam a sobrevoar minha cabeça e ouvidos atrapalhando todo meu descanso. A febre parece vir com mais força e já sobre efeitos de antitermicos, sem saber o que fazer, ligo a televisão. Ainda mesmo que tomado por certa sonolência passo a prestar muita atenção em um telejornal local onde uma notícia me chamou a atenção, aliás, me causou preocupação. Falava – se sobre um surto de febre amarela onde seu principal foco era justamente o estado de Minas Gerais. Foram dados os sintomas mais evidentes: língua, pele e mucosas amareladas, cansaço e dores no corpo. Levanto – me rapidamente em direção ao banheiro. Escarro uma enorme bola de catarro na pia, fito – me detalhadamente no espelho chegando a uma conclusão: dos cinco sintomas da doença, três estou totalmente ileso.

Voltando a cama do meu quarto, que já adquirira forma do meu corpo em seu colchão feito um molde de argila, tento descansar. Passados alguns minutos (nos quais não consigo dormir) começo a refletir, ou melhor, delirar. Começo a pensar que não devo estar totalmente ileso do surto de febre amarela. Para isso, coloco várias hipóteses sobre uma propensão de estar 75% com febre amarela, pois no quarto havia inúmeros mosquitos que além de não me deixarem dormir, com toda certeza me picaram várias vezes. Sendo assim para que se chegasse a 100% de contaminação (pele, língua e mucosas amareladas) era só uma questão de tempo. Dentre poucas horas iniciaria – se a metamorfose patológica.

Sem mais uma vez saber o que fazer, aguardo a amarelidão com sarcasmo, deitado em minha cama, passando o controle remoto da televisão por todos os canais abertos dos mais fúteis aos mais cultos (que são raríssimos) e ainda não amarelei. Mas cela passera (mas isso passa).

sábado, 5 de janeiro de 2008

Gavetas como terapia







Nos momentos mais difíceis, como os mais variados ataques virulentos de fúria, me ponho a fazer algo que cesse este efeito. Começo a procurar e rapidamente acabo encontrando algo a fazer.

Certo dia, ao escutar pelos cantos das paredes o meu nome de uma forma injusta, fui contaminado por destes ataques. A indignação era tanta que na minha cabeça rondavam coisas sombrias, ou seja, respostas que eu deveria gritar aos quatro cantos ofendendo assim qualquer pessoa que se dispusesse a escutar.

Para conter todo meu ódio que invadia meu corpo, comecei a vasculhar todo o meu quarto sem saber o que procurar, ou qual o motivo daquela “busca”. Parecia mais uma separação do que deveria ser jogado fora, o que presta e o que não presta o joio do trigo. Comecei fazendo isto numa rapidez incansável até chegar as criados mudos. Naquele momento, ao remexer em suas seis pequenas e fundas gavetas entrei em estado de inércia. Foi como cada gaveta tivesse se transformado em paginas de um sujo e velho diário. Novamente pequenos filmes chegavam a minha mente como sempre acontece, porém, num método leve e bem agradável.

Fotos antigas, cartas de pessoas já tão distantes, pedaços de cigarros, frases avulsas de várias obras literárias, ingressos de shows, textos de faculdade, foram algumas das tantas páginas encontradas sobre minha vida.

Após esta “vasculhada” a ira passou me deixando um pouco melhor. Meu único medo, aliás minha única incerteza seria o fato de outras tantas milhares de pessoas que em estado de fúria não tenham algo em que se apoiar agindo com extrema explosão tornando – se insensato com suas próprias palavras.

Na verdade, gavetas, a meu ver servem para que nos lembremos de tudo o que deixamos para trás ou de que uma vez tentamos esquecer, porém, quando menos esperamos, elas sempre estarão lá se abrindo para que você nunca se esqueça de seu passado onde o mesmo são como gotas de mercúrio: se segurá – las de forma brusca escorrerão sobre suas mãos esvaindo – se pelo chão. Se fizer o contrário, segurando – as com enorme delicadeza, sempre terá do que se lembrar.

Navalha



O que mais tem me causado surpresa ou para outros estranheza é a forma de como minhas lembranças chegam até minha mente como um flash. Posso estar tranquilamente fazendo algo, que me valha ou não e em instantes surge uma lembrança retratando algum momento parecido com o presente vivido.

Sentado em um pequena e simplória barbearia de minha cidade, comecei a me entediar com a demora existente gerando uma enorme inquietação. Foi quando ao me distrair por alguns poucos minutos, chegou a tão esperado hora de desfazer a minha barba. Ao reclinar meu corpo sobre aquela cadeira, fechei meus olhos e a partir dali lembrei de meu saudoso avô. Como se fosse um filme, minha mente retratou aquelas manhãs de sábado onde meu pai me levava a sua casa para aparar ou na maioria das vezes, desfaze – la por completo. Sua paciência era totalmente o inverso da minha. Aos primeiros efeitos da lâmina sobre o rosto de espuma branca e cheirosa começo a entrar em num estado de aflição onde meus pés passam a se debater como se a navalha estivesse cortando minha jugular. Já o saudoso Lindorico, sempre estava tranqüilo. Parecia que aquilo era uma satisfação: deixar que a barba crescer para depois ficar sentado durante alguns longos minutos com a lâmina deslizando em suas bochechas, sua garganta sem se quer reclamar de nada.

Tais lembranças me trouxeram a um época, onde eu poderia tentar me aproximar daquele homem alto coma a cara truncada de raros sorrisos mas que ainda me cativa mesmo estando longe já alguns anos.

“Aquele preto tão preto! Com aquela barba branca, tão preta! E aquele tão meigo de quem espera ganhar um sorriso incolor.”